As manifestações de junho e julho colocaram o país num novo patamar de
discussões, impondo aos governos e partidos de esquerda, bem como aos
movimentos populares, uma profunda avaliação de métodos e políticas para levar
adiante nossas propostas programáticas.
Nas manifestações de junho predominou um “desencontro” entre massa e
movimentos organizados, abrindo caminho, inclusive, para que a direita se
aproveitasse, aqui-ali, das passeatas, infiltrando agentes fascistas e
provocadores e até colocar de forma “submarina” propostas que nada tem a ver
com o núcleo central dos protestos que é a luta pela REFORMA URBANA e todo o
programa e políticas públicas que lhe são intrínsecas: mobilidade, moradia
digna, saúde e educação públicas e de qualidade, enfim, O DIREITO ÀS CIDADES!!
Pela ação das massas no meio urbano, os antagonismos provocados por um
capitalismo senil foram colocados no centro da conjuntura política do país,
apontando claramente para uma agenda transformadora, de reformas estruturais,
onde os recursos públicos sejam direcionados para atender às necessidades
básicas da população e fortalecendo uma estratégia de nação soberana e
socialista.
As grandes regiões metropolitanas do país tem ficado insustentáveis. A
construção das cidades, com o adensamento populacional e dos equipamentos
públicos, representaram um progresso histórico, nas relações humanas, sociais e
culturais, tão deprimidas no período feudal. No entanto, o sistema capitalista,
limitado por ter como pilar a propriedade privada e a exploração do trabalhador,
não dá conta de vencer os desafios históricos colocados nos grandes
conglomerados urbanos, onde a questão do uso e ocupação do solo e as mazelas da
especulação imobiliária excluem milhões de viver e morar dignamente e inviabilizam
qualquer tipo de planejamento urbano.
Por outro lado, a priorização das obras da Copa do Mundo foram
amplamente rechaçadas pela população. Os gastos exorbitantes para a construção
dos estádios, a submissão à FIFA e a clara possibilidade de ociosidade desses
equipamentos no pós-Copa, vem sendo cobrados constantemente pela população
junto aos governos nacional e locais.
Os movimentos populares e a particularmente a CMP, como referencia
principal dos movimentos populares, veem como necessários abraçar duas posturas
políticas fundamentais: primeiro, rechaçar qualquer tentativa de aproveitamento
da direita diante da conjuntura de crise (que na verdade é a crise deles, como
representantes de um sistema capitalista) e, segundo, reafirmar a autonomia dos
movimentos populares em relação aos governos que, embora se colocando à
esquerda, acabam se enredando no funcionamento de um Estado cujo código
genético foi programado para servir aos grandes capitalistas, detentores de
grandes fortunas, enfim, à elite parasita da sociedade. Em resumo, a CMP se
opõe a governos que se propõem a “administrar a crise do capitalismo!!”
Construir um norte político-programático é o desafio que os segmentos
democrático-populares e socialistas da sociedade têm pela frente. Está cada vez
mais inaceitável e indefensável as justificativas para que governos de esquerda
fiquem a reboque dos projetos da grande burguesia. É possível constatar,
inclusive, que alguns governos que se colocam como “esquerda” manifestam clara
ilusão com esses projetos. A postura de classe de banqueiros, grandes
empresários e agroempresários é de acumular capital sobre a proteção de
governos progressistas, na medida em que esses governos sirvam de muro de
contenção das massas. Frente a qualquer instabilidade, certamente deixarão “na
chuva” esses mesmos governos “aliados”. Isso ficou evidenciado mais uma vez na
conduta da grande mídia frente aos protestos de junho.
De outra parte, a mobilização de 11 de julho mostrou que é imprescindível
fortalecer a frente Movimentos Populares-Sindicatos-Movimentos do Campo, para
construir um salto de qualidade no processo. Superar a fragmentação
programática e cimentar a unidade política são questões colocadas no balanço do
“11 de julho”, quando as manifestações foram quantitativamente menores que as
de junho, puxadas pelo MPL, VEM PRA RUA etc. mas, qualitativamente, tiveram a
mesma importância política e, mais à frente, todos, por uma necessidade
colocada pela luta-de-classe, vão se encontrar num movimento único, com ampla
base de classe e popular, unindo cidade e campo, para avançar para as
transformações sociais e estruturais.
Na construção do V Congresso Nacional da CMP, reforçamos o nosso apoio à
reforma política e ao Plebiscito como tática de garantia de uma profunda
reforma política, à reforma do Judiciário (que se mostra sempre como o poder
mais conservador da República), ao Programa Mais Médicos, para fortalecer a
atenção primária e o SUS; à destinação dos royalties do petróleo para a Educação,
aos ajustes no Minha Casa Minha Vida, com a ampliação do acesso dos movimentos
para financiamento da construção por autogestão.
Reafirmamos nossa bandeira pelo Socialismo como norte estratégico dos
movimentos populares, deixando claro que a crítica e autocrítica expostas nesta
análise têm duas direções claras:
- Estamos atentos aos movimentos da direita, dentro e fora do Congresso Nacional, que tentam golpear as conquistas populares do último decênio, incluindo as manobras conduzidas pela grande mídia visando golpear o povo nas eleições de 2014, seja estimulando candidaturas da direita, seja estimulando a divisão do campo de esquerda;
- A CMP interpreta as manifestações de rua como um estímulo político para a Central e seu V Congresso, no sentido da renovação interna, da massificação cada vez maior das suas ações e da inadiável construção do Socialismo, como saída para o Brasil e para o Mundo.
Ipatinga (MG) 30
de julho de 2013.
Direção Nacional
da CMP
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